Pedro vai nascer em meados de novembro, mas o dia do parto ainda não foi  agendado. O bebê, no entanto, já tem data marcada para começar a  frequentar uma creche: 2 de maio de 2012. Aos cinco meses de gravidez,  sua mãe, Bianca Sallaberry, acaba de fazer a matrícula numa instituição  em Botafogo, bem em frente ao local onde trabalha. Quando esteve lá há  alguns dias, ela só queria conhecer o lugar, ter informações sobre  preços, mas acabou descobrindo o que muitos pais estão constatando. Por  causa da explosão imobiliária no bairro e em outras regiões como Barra  da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes, está cada vez mais difícil  conseguir vaga em creches e escolas, principalmente nas turmas de  educação infantil. 
 - Estou nove meses adiantada. É o meu primeiro filho, algumas amigas  disseram para eu começar a procurar, mas não sabia que era complicado  assim. E eu queria essa, em frente ao meu trabalho - explica Bianca, que  calcula voltar da licença em abril. - Ele só começa em maio. Vou ter  que fazer um esquema com minha mãe e minha sogra. 
Creches têm até fila de espera 
 Pedro vai ficar na creche Criativa, que está com as 180 vagas ocupadas e  mantém uma lista de espera com cem candidatos. A instituição tem  filiais em outros bairros, como a Barra, que desde 2006 lidera o ranking  da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário  (Ademi-RJ), com o maior número de novos empreendimentos. De 74.720 novas  construções, 19.373 estão na Barra. Os dados, consolidados até abril  deste ano, mostram ainda que nestes últimos cinco anos foram erguidos  1,6 mil novos prédios em Botafogo. 
 A funcionária pública Márcia Cristina Nogueira de Figueiredo e o marido  Delson Antonio Carvalho Silveira, que moram na Tijuca, vão se mudar para  a Barra até setembro. O filho deles, Eduardo Henrique, de 3 anos, está  no maternal II do colégio Mopi, que tem filial nos dois bairros. Desde  março ela tentava a transferência para a Barra, confirmada somente na  semana passada, depois que uma família informou à escola que vai se  mudar do Rio. A vaga, no entanto, é para setembro. 
 - Estava chegando a hora da mudança e nada de vaga. Só conseguimos  porque uma família vai sair do Rio. Estava preocupada, não queria trocar  de escola, ele já está adaptado. Sabe que, quando bota o uniforme, é  hora de estudar. 
 Diretor administrativo do Mopi, Vinicius Canedo reconhece o impacto do  crescimento imobiliário na Barra, onde a escola funciona há três anos.  Por causa da demanda, o colégio prepara a expansão dessa unidade e  negocia a compra de um terreno em outro ponto do bairro para erguer mais  uma filial. Segundo Canedo, as turmas de educação infantil estão com  fila de espera. Para conseguir vaga, as famílias passam por uma  "sondagem". 
 - Temos um projeto pedagógico sustentável, e a grande demanda nos ajuda a  mantê-lo. Com a sondagem, seleciono pais alinhados com nosso  pensamento. Quando a escola tem vaga sobrando, acaba recebendo famílias  que depois questionam o projeto. E, se o colégio faz concessões, perde a  identidade. 
 A grande procura por vagas também foi positiva para a Creche Escola João  Paulo II, no Recreio. Inaugurada há cinco anos, ela está funcionando a  todo vapor, na metade do tempo previsto para a consolidação do negócio.  Sócia da instituição, Nailse Dalboni diz que muitos candidatos da fila  de espera são filhos de jovens casais que se mudaram para o bairro,  atraídos pelos novos empreendimentos imobiliários: 
 - No Recreio tem muitos casais que moram longe da família, alguns não  querem ter babás e precisam de creche. Nosso berçário é a menina dos  olhos. 
 Mãe de Manuella, de 4 anos, Aline Papera Monteiro Nesti sabia que não  seria fácil achar vaga para Lucca, de 8 meses. Mesmo assim, só procurou a  João Paulo II em maio, quando terminou sua licença. A boa notícia só  chegou na semana passada. 
 - Fiquei na fila de espera, mesmo tendo filha matriculada. O bairro  cresceu muito. Vai ter gente saindo da maternidade e entrando nas  creches. 
 Eliane d"Ávila Pixioline, moradora do Recreio há um ano, disse que  visitou várias creches para matricular Filipe, de 6 meses. Em algumas,  não havia vaga nem para 2012. 
 - Fico de licença até dezembro, mas ele já vai começar a adaptação em  agosto, para garantir a vaga na João Paulo II. Não esperava isso. 
 Ao investir num novo prédio, a construtora, em geral, divulga as  vantagens do bairro. De acordo com o presidente da Ademi-RJ, José Conde  Caldas, os empresários não tinham percebido que a falta de escolas era  um ponto negativo em algumas regiões: 
 - Barra e Recreio têm núcleos isolados. Mas a falta de escolas  surpreende até a Ademi. Em Botafogo há muitas famílias de classe média  e, para manter o padrão, o homem e a mulher trabalham. Não tem quem  cuide das crianças. 
 Presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Básico do  Município do Rio, Victor Notrica lembra que em Botafogo há restrição  para a construção de novas escolas e creches, em áreas como as de  proteção ambiental e em locais com problemas viários: 
 - A falta de vaga afeta mais as creches. Nos ensinos fundamental e médio  é mais fácil de os alunos circularem, estudam em bairros próximos. 
 A escassez de vagas em escolas também é uma realidade na Barra. O  colégio pH, que tem duas unidades no bairro, prepara uma expansão para  2013 e estuda a possibilidade de criar turmas de horário integral. Em  Botafogo, a Escola Dínamis tem ampliado as turmas, principalmente de  educação infantil. 
 - Tínhamos duas turmas, agora são cinco. A maioria das famílias quer  vaga à tarde, mas tem gente frequentando pela manhã, para garantir a  preferência. Mas o curioso é que, quando surge a vaga à tarde, a criança  acaba ficando em horário integral - conta Céu Feldman, diretora de  ensino infantil da Dínamis. 
 Vagas em creches e escolas não acompanham expansão imobiliária, obrigando mães a se planejarem muito cedo 
 BIANCA MOSTRA a barriga, aos cinco meses de gravidez de Pedro, que já  tem matricula numa creche em Botafogo; ao lado, Márcia, Delson e Eduardo  Henrique, que brinca com o trenzinho em casa: o menino estuda num  colégio na Tijuca e, depois de ficar numa fila de espera, conseguiu vaga  para a filial da Barra, numa turma de educação infantil 
Ediane Merola - O GLOBO 
Fonte: Jornal O Globo
 

 
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