segunda-feira, 27 de junho de 2011

Município cearense universaliza programa de tempo integral sem gastar muito


O município de Eusébio (CE) adotou o tempo integral  Foto: João Luis

EUSÉBIO(CE). Sair para trabalhar ao lado dos filhos virou motivo de satisfação para a professora Lislene Pires dos Santos, da Escola de Ensino Infantil e Fundamental Otoni Sá, em Eusébio, região metropolitana de Fortaleza. Lislene atende crianças com necessidades especiais. Ao mesmo tempo, fica de olho nos filhos de 7 e 10 anos, alunos em tempo integral na mesma escola.


Eusébio foi o único município cearense a universalizar o programa do tempo integral nas 35 unidades da rede municipal, desde o ano passado. Até ultrapassou a meta do Plano Nacional de Educação (PNE) que prevê a implantação desse regime em 50% das escolas públicas de educação básica só em 2020. Ao todo, são beneficiados 3.500 alunos do berçário ao 9 ano, num universo de 13.500 matrículas.


A jornada vai das 7h às 17h. Em um turno há disciplinas curriculares. No outro, esporte, informática e oficinas de Português, Inglês, Matemática, artes, crochê, renda e tear. O artesanato é vendido na comunidade e o dinheiro, usado para comprar matéria-prima. Na escola, os alunos fazem o dever de casa, chamado de tarefa orientada.


Em todas as escolas foi instituído o almoço pedagógico. Os "bandejões" e utensílios de plástico foram abolidos. Cada criança, a partir dos 6 anos, serve-se sozinha e come em prato de louça, com copo de vidro e talher inoxidável. O receio de que os objetos virassem armas deu lugar ao orgulho de ver as crianças comendo com educação. Garfo e faca não intimidam mais Artur de Oliveira Saraiva, de 6 anos que, diferentemente dos pais, não usa só colher. O almoço pedagógico surgiu quando a secretária municipal de Educação, Marta Cordeiro, viu, num shopping de Fortaleza, um garçom rindo de uma família que pediu colheres para comer.


- Prometi que nunca nossas crianças iriam passar por aquela humilhação.


Comida tem à vontade e ninguém precisa disfarçar o apetite. No começo, os olhos eram maiores que a barriga. Ao todo, fazem três refeições na escola.


- O que eu gosto mais é da comida e de dormir - disse Fransley Rodrigues Silva, de 11 anos, aluno da 4 série.


A sesta é outra decisão compartilhada pelas escolas. As professoras perceberam que a falta do descanso prejudicava as atividades depois do almoço. Durante uma hora, as salas são transformadas em dormitórios, com os alunos separados por faixa etária e sexo. Para a secretária de Educação do município, universalizar o tempo integral não é bicho de sete cabeças, e um passo é fundamental: sensibilizar a comunidade escolar e os pais dos alunos.


- Sei que todo sonho de educador vira pesadelo muito cedo. Mas aqui resolvemos sonhar juntos - diz Marta.


A experiência derrubou o mito de que o programa requer investimento alto e grandes obras. As escolas sofreram apenas algumas adaptações. Salas usadas pela administração foram cedidas para outras atividades. Eusébio investe de 28% a 30% do orçamento em Educação, enquanto a lei determina 25%. 


A escola com que eu sonho: a educação transforma


RIO - Quero uma escola pública de qualidade, e isso passa pela valorização e pela respeitabilidade dos profissionais de educação. Escola, para mim, é espaço de construção do conhecimento, mas como um professor que recebe R$ 500, R$ 700 e tem que ter várias turmas para se manter consegue pensar numa estratégia de aprendizado crítica, reflexiva, prazerosa, inovadora? Quero uma escola aberta à comunidade, pois isso contribuiria para despertar a importância de manter as crianças em sala de aula. Hoje, muitas famílias não valorizam a educação. As pessoas pensam: vou aprender para quê? Por isso, temos um desafio: educar os jovens que vivem no século 21. O fazer pedagógico deve ser ajustado às novas realidades. Não quero uma escola onde isso não exista, mas ainda convivemos com falta de material, de transporte para levar os alunos, com salas de aula em péssimas condições, com educadores que não conseguem estudar, não conseguem nem receber pessoas para discutir novas práticas de educação. Acredito que a educação transforma. A escola que eu quero não existe, mas é possível.
Wânia Balassiano é professora de história no ensino médio

Fonte:  http://moglobo.globo.com/integra.asp?txtUrl=/pais/mat/2011/06/19/municipio-cearense-universaliza-programa-de-tempo-integral-sem-gastar-muito-924722522.asp

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