terça-feira, 18 de outubro de 2011

Projeto combate a mortalidade infantil

Gestantes do Jacintinho são acompanhadas do pré ao pós-parto e crianças têm assistência no primeiro ano de vida
  
Com o objetivo de contribuir para a redução da mortalidade materno-infantil, o Hospital Nossa Senhora da Guia (HNSG) vem implementando ações de acompanhamento de gestantes e bebês que vivem em um dos bairros mais carentes de Maceió, onde são altas as taxas de natalidade e mortalidade materna e infantil. “Dados da Secretaria de Saúde apontam que 65% dos óbitos infantis são por causas evitáveis. Um índice muito alto, e nós temos que contribuir para reduzi-lo", diz a gerente de Unidades Externas da Santa Casa de Maceió, Rejane Paixão.

Por meio do Projeto Jacintinho, uma iniciativa do Hospital Nossa Senhora da Guia que conta com a parceria das secretarias Municipal e Estadual de Saúde, as gestantes do bairro são acompanhadas desde o pré-natal até o pós-parto e as crianças têm assistência médica garantida no primeiro ano de vida. A meta é zerar o índice de mortalidade infantil por causas evitáveis.


Iniciado no último mês de maio, o Projeto Jacintinho conta com uma equipe multiprofissional formada por obstetras, pediatras, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas e nutricionistas. Durante o pré-natal, as gestantes recebem orientações sobre exames e nutrição, têm atendimento psicológico e são cadastradas para receber a cesta nutricional ofertada pelo governo às gestantes com risco nutricional. Além disso, as equipes do HNSG também dão orientações voltadas para outras áreas como a de cidadania.

"Se for uma gestante que venha sem a condição civil plena, seja menor ou maior de idade, nós fazemos uma orientação para que ela se organize e vá fazer a documentação para que, assim, comece a se perceber como cidadã", destacou Rejane.

As orientações passadas às gestantes durante o pré-natal ajudam a combater doenças que possam vir a acontecer durante o período de gestação - sejam elas sexualmente transmissíveis ou não. Também contribuem para que as futuras mães tenham uma alimentação saudável e sejam encaminhadas para vacinação, por exemplo.

ACOMPANHAMENTO DAS CRIANÇAS

Depois que nascem, as crianças também têm acompanhamento médico garantido por um período de um ano. O primeiro retorno ao hospital é agendado para oito dias depois do parto, mas o acompanhamento continua sendo feito mensalmente até que a criança complete um ano de idade. Segundo a médica pediatra Délia Herrmann, o HNSG montou um ambulatório para atendimento das crianças que nascem lá. O local funciona nos períodos da manhã e da tarde e tem como meta o atendimento de 400 crianças da região.


"As crianças nascem no hospital e são agendadas para o retorno na primeira semana, e a partir daí nós fazemos a puericultura, que é o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento dessa criança até o primeiro ano de vida", conta a pediatra, explicando que, nesse período, as mães também são orientadas sobre vacinação e cuidados para evitar acidentes com as crianças, além de serem estimuladas a fazerem o aleitamento materno.

Parto normal reduz riscos

O estímulo ao parto natural também faz parte do Projeto Jacintinho, por ser uma forma de reduzir os riscos tanto para as mães, quanto para os bebês. Segundo Rejane Paixão, cerca de 60% dos partos realizados no Hospital Nossa Senhora da Guia (HNSG) são cesarianas, enquanto apenas cerca de 40% das crianças nascem de forma natural. Inverter esse dado é um dos desafios.

No pré-natal, a equipe multidisciplinar do projeto orienta as gestantes sobre os benefícios do parto natural e ajudam a fazer com que o medo, considerado o grande vilão, deixe de existir.

"Elas chegam procurando o parto cesariana e o que percebemos é uma falta de conhecimento. Elas acham que dói menos, que vão sofrer menos e que o processo é mais rápido, e nós queremos desmistificar isso, fazendo com que elas entendam que o processo da dor pode ser aliviado e que o parto natural é mais seguro. Temos que ganhar a confiança das mães, pois o medo ainda é o grande vilão", fala Rejane.


De acordo com o médico obstetra Antônio Carlos Moraes, a melhoria da qualidade do pré-natal é fundamental para que a gestante chegue ao parto esclarecida sobre o momento que vai viver, além de também ser de grande importância para a diminuição dos riscos de infecções que podem vir a causar problemas na hora do nascimento do bebê. As orientações passadas às pacientes também visam reduzir o número de cesarianas nas mulheres que já tiveram parto normal e querem fazer cesárea, aproveitando a hora do parto para fazer a laqueadura.


"Esse não é o procedimento ideal porque o risco cirúrgico é muito maior que o parto normal. A gestante fica exposta a hemorragias e infecção. E hoje, o que mais causa a morte de grávidas são as infecções, a hemorragia e a hipertensão. Quando a mulher se submete a um procedimento desnecessário, como a laqueadura durante a cesárea, aumenta o risco de infecção e morte", conta o obstetra.


Tendo isso em vista, o HNSG criou um programa de laqueadura, que visa o retorno das mães que estão aptas ao procedimento depois do nascimento do bebê.

"A mãe tem a criança de forma normal, depois volta para consulta pós parto, faz exames e com 60 dias, estando tudo certo, ela pode fazer a laqueadura. Temos todo um protocolo a seguir. A mulher tem que ter no mínimo 25 anos e dois filhos vivos, por exemplo", destaca Antônio Carlos.
Aumenta procura pelo pré-natal

Segundo o médico Antônio Carlos Moraes, após a implantação do Projeto Jacintinho, a procura pelo pré-natal pelas gestantes residentes no bairro aumentou. Apesar disso, muitas mães ainda procuram o hospital quando estão com a gestação avançada, quando o ideal seria iniciar o pré-natal antes das 12 semanas.


"Nós percebemos o aumento do número de pessoas procurando o pré-natal. Hoje vão muitas mães do Jacintinho. Apesar disso, nós atendemos gestantes em trabalho de parto que chegam com duas, três consultas, e que não tiveram acesso aos exames necessários, quando o ideal é que elas tenham, no mínimo, seis consultas", afirma.


Quando o pré-natal é iniciado antes das 12 semanas, as gestantes têm acesso às informações necessárias e evitam perigos como o de se exporem a alguma droga ou medicamento, realizar algum exame que possa interferir no desenvolvimento do bebê ou pegar uma infecção. "Quanto mais cedo se captar essa gestante, melhor", diz.


No HNSG, o estímulo ao parto normal também está associado à fisioterapia. "A fisioterapia faz um trabalho importante no auxílio da orientação de postura e respiração da paciente, além de orientar sobre algumas posições que as gestantes podem ir trabalhando em casa, fazendo exercícios que ajudam na hora do parto", falou.


A ajuda psicológica também é importante e faz parte do projeto. No caso das adolescentes, por exemplo, grupos são formados e recebem atendimento de psicólogos. 

Fonte: http://gazetaweb.globo.com/v2/noticias/texto_completo.php?c=237237

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