domingo, 21 de agosto de 2011

Voz de mãe

Ilustração Beatriz Giosa
Na minha primeira coluna, mês passado, falei sobre o processo de silenciamento de algumas vozes, que preferiam usar redes sociais e mensagens instantâneas para se comunicar com pessoas próximas e distantes.
Como estamos no mês das mães, nada melhor do que falar sobre uma das vozes mais marcantes e importantes de nossas vidas. Aquela que nos acalentou e que, nos momentos mais difíceis, sempre tinha uma palavra para nos acalmar, ou que, quando falava nosso nome completo, já sabíamos que vinha uma bronca. A voz que gritava de manhã: “O leite...”, e que dizia: “Boa noite, meus amores”, ou “não se preocupe, vai dar tudo certo, mamãe está aqui”.
O bebê necessita da voz da mãe tanto quanto necessita do seu leite. Será a voz materna que inserirá o novo ser no seio da comunidade humana, como diz o pesquisador francês Jean Biarnès: “É, então, no meio do ruído das vozes que o cercam, que tudo começa para o filhote de homem. Do primeiro grito ao primeiro ‘Eu’, é entre diferentes vozes que a criança vai poder afirmar sua presença como sujeito”.
Como presente para o dia das mães, quero compartilhar com vocês uma narrativa sobre a voz materna:
No século 14, na região da Andaluzia, Espanha, existia um homem muito rico, mas analfabeto. Sua vida fora muito sofrida. Havia escapado de perseguições por toda Europa, até chegar à Espanha, onde prosperou financeiramente.
Como queria que o único filho não repetisse sua condição de homem não estudado, enviou-o para as melhores escolas europeias.
Durante um ano inteiro, o pai não recebeu sequer uma carta do filho, até que um dia, tal missiva adentrou a casa do homem rico. O pai, não sabendo ler, chamou um empregado e perguntou:
– O senhor sabe ler?
– Sim, meu patrão – respondeu secamente o empregado.
– Então leia essa carta imediatamente para mim – disse o pai, empurrando o envelope para o empregado.
O empregado, que não gostava nem do homem, nem do filho e nem de ninguém, abriu o envelope e leu a carta o mais rispidamente possível:
– Pai! Preciso muito de dinheiro! Minhas roupas estão velhas e meus livros, rasgados!
– Que empáfia! Que arrogância! Esse moleque pensa que sou um banco! Ingrato! – esbravejava o pai.
Assim que o empregado saiu, a esposa do homem rico se aproximou e, vendo seu marido bufando, perguntou:
– O que foi?
– Seu querido filho mandou uma carta. Olhe só o que ele escreveu! – disse o marido, entregando o envelope à mulher, que sabia ler.
Ao ouvir a palavra “filho”, o coração da mulher começou a bater mais forte, a saudade era tão grande que ela até cheirava o papel. E com uma voz enternecida, leu a carta em voz alta:
– Pai. Preciso muito de dinheiro. Minhas roupas estão velhas e meus livros, rasgados.
– Ah, agora, sim, é meu filho – disse o marido. – Realmente não o havia reconhecido antes. Amanhã mesmo enviarei um emissário com o dinheiro.
Feliz Dia das Mães!

Ilan Brenman é doutor em educação e um dos principais escritores de literatura infantil do Brasil, é pai de Lis, 7 anos, e Íris, 4. Fale com autor: crescer@ilan.com.br

Fonte:  http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI228643-18480,00-VOZ+DE+MAE.html

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